segunda-feira, 29 de abril de 2013

Por um mundo mais (verdadeiramente) Child-Friendly!!




O conceito anda na moda. Diversos restaurantes, hotéis, resorts e até cidades inteiras se estruturam para receber melhor as famílias com crianças, da melhor forma possível.

"Child-Friendly" significa, em bom português, "simpáticos às crianças". São ambientes onde seus filhos não serão recebidos com muxoxos, não se sentirão estrangeiros em uma terra de gigantes, onde a mesa é alta demais, a comida, esquisita demais, as brincadeiras precisam ser inventadas e nunca são bem recebidas.

Não me entendam mal: eu simplesmente AMO a ideia. Adoro ambientes Child-Friendly. É muito bom ver seu filho ser recebido com um sorriso do maître, sentar em uma cadeira adequada e receber atividades para distrair-se enquanto sua refeição especial não vem. Papinhas no Menu, refeições na porção certa, locais para a criança brincar enquanto espera a refeição ou a conta.
Banheiro adaptado para crianças - é o que há!

É um mundo enorme que se abre. Além dos restaurantes, hotéis oferecem brinquedotecas, berços nos quartos, baby-sitters e até "copas do bebê", ambientes equipados com geladeira, fogão, microondas e pia para preparação de fórmulas ou papinhas.

Local infantil de uma livraria em Gramado. As crianças, comportadas e compenetradas...
Mesinha de desenhos em café em pleno shopping de Caxias do Sul.
A refeição infantil veio com carinha feliz!
Copa do Bebê e Brinquedoteca do Hotel Villa Bella em Gramado: Baby Sitter, Vídeo Game, piscina de bolinhas, berços e camas.

Deveriam estar em todos os aeroportos! Infelizmente, a Infraero parece não pensar assim...

Atualmente, diversos eventos tipicamente "adultos" são realizados especificamente para serem frequentados por pais com filhos. Assim é o CineMaterna, com sessões de cinema gratuitas para gestantes e mães com filhos até 18 meses, com luz suave, volume reduzido e trocador; o Sambebê, que promove shows em ambientes especialmente montados para inclusão de crianças e bebês, com som mais baixo, brinquedos e tapetes especiais; o Barulhinho do Bem, em Porto Alegre, que faz happy hours musicais com boa música adulta em som adequado às crianças, ambiente lúdico e alimentação especial para os pequenos. Cada iniciativa dessa me comove, me alegra - pois não é porque dois adultos têm filhos e decidem estar com eles em suas horas vagas disponíveis que não sentem também vontade de interagir com outros adultos, ouvir boa música, ver um bom filme.

Com o fim da era das "babás em tempo integral", esses ambientes devem ser cada vez mais bem vindos.

Por outro lado, toda essa inclusão também gera alguns narizes torcidos. Em NY, alguns bares que servem "a cervejinha do fim de tarde" abriram seus ambientes para pessoas com filhos e criaram a polêmica, como nos contou no início do ano o blog "Have a Nice Beer". Desde que li esta postagem, em especial, algo vem me incomodando...

Sempre odiei as piadinhas onde os "paladinos da justiça para os filhos alheios" insinuam que nós, mães, colocamos nossos filhos em situações que os igualam aos cachorros quando os colocamos em cintos de retenção (de coleira não tem nada, pois não está amarrado no pescoço da criança... Ou quando você faz RAPEL, coloca a coleira na cintura para não cair...?), ou quando os "treinamos" para o desfralde e para que se comportem de determinada forma...

Apesar de achar que cachorros devem ser MUITO bem tratados, e de ignorar sem dó esse tipo de insinuação, me perguntei, dentro do contexto, se esses ambientes "Child-Friendly" não poderiam ser mal interpretados como se "seres humanos adultos" estivessem "permitindo" que crianças acessem os ambientes pré-selecionados? Como os ambientes "Pet-Friendly"?

Apesar de saber que os ambientes "Child-Friendly" se vendem assim apenas para oferecer o conforto extra aos pais com filhos, e nem de longe desejar desmotivá-los a assim proceder, o movimento de inclusão gerou a contrapartida: deixou outros ambientes à vontade para se permitirem ser "Child-Unfriendly"! REALLY!

:O

Créditos: www.sodahead.com

Excluídos os ambientes que verdadeiramente não possam ser frequentados por crianças, porque são inadequados ao seu desenvolvimento, não vejo porque TODOS os demais ambientes não se prestam a receber crianças. São seres humanos, consomem, vivem em sociedade, e necessitam da interação social para se desenvolverem! Ou não é o que diz a nossa Constituição Federal?

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Mais uma vez, não vamos desvalorizar os ambientes receptivos às famílias: eles são os bons moços. Estão fazendo o certo, e o melhor, lucrando com isso. Ao custo de um trocador, alguns cadeirões, um prato servido em menor porção, alguns gizes de cera, papel e um sorriso amigável.

O outro lado, todavia, os ambientes "proibidos para crianças", mandam as crianças para "debaixo do banco", juntas ao "cachorro e ao tamanco", como dizia o antigo ditado. Agora, sim, caros "paladinos da justiça para os filhos alheios", e não ao pormos em nossos filhos o dispositivo de segurança, as crianças estão sendo tratadas como pets!

As justificativas são belas: pretendemos criar um ambiente romântico aos hóspedes, não estamos adaptados à receber crianças... Hotéis, restaurantes, todos com a placa virtual em riste: NO PETS/NO CHILDREN.

Quando eu era criança, li um livro infantil sobre o Apartheid. Falava sobre um garoto brasileiro negro que ganhava uma viagem para a África do Sul, e era então informado sobre os ônibus divididos ao meio, bancos de praça divididos e estabelecimentos divididos. Choquei. Pensei: "como eles podem achar isso normal?". Toda segregação começa com um sofisma. Uma explicação distorcida, mas persuasiva e com aparentes boas intenções. Porque não justificar o Apartheid argumentando que os negros "se sentiriam mais a vontade" em um ambiente só seu..? É assim que começa a intolerância.

Gostei muito do que disse a Loisiana, citada pela Lola do blog "Escreva Lola Escreva". Será que o próximo passo será proibir-se idosos em determinados locais, para manter o ambiente mais "fresquinho"? Assim como os filhos dela, os meus são super comportados. Têm seus maus momentos, mas normalmente os contornamos rapidamente.

Meus filhos nunca fizeram confusão aos berros para não colocar a poltrona na posição vertical, como vi um adulto sem filhos fazer; nunca tiraram os sapatos com chulé durante o voo, o que infelizmente, vi fazer um outro ser supostamente crescido. As suas fraldas sempre foram trocadas no banheiro, e nunca incomodaram os outros passageiros. Heitor ouve seu DVD com fones apropriados, ou sem o áudio; come quietinho, não corre pelo restaurante; não conversa alto atrapalhando as outras mesas, não fala alto no celular, não joga água nos outros quando está na piscina. Meus filhos não jogam lixo no chão e mesmo jogando alguma comida no chão, têm uma mãe que cata seus restos com um lencinho umedecido.

Apesar de ainda estarem aprendendo, muitas crianças encontram-se em estágio de desenvolvimento muito mais avançado do que diversos adultos que conheço.

Acho que ficou claro: há crianças e adultos inconvenientes e mal educados. Infelizmente, até certos limites, teremos que tolerá-los em lugares públicos. É assim que valorizamos o direito fundamental à liberdade no nosso país.

Meus filhos foram concebidos em meio a muito romance. Ao lado deles, todos ficamos amorosos, porque eles despertam amor. Só consigo pensar que olhar para meus bonecos deixariam muitos casais com vontade de correr para seus quartos... Para treinar. Quem sabe com muito romance e amor consigam fazer meninos tão inspiradores...!

Citarei um trecho do post no Escreva Lola Escreva que diz exatamente o que senti:

"Vejo que a PEDOFOBIA vem crescendo muito e fico bastante assustada. Afinal, a pedofobia deve ser tão combatida como qualquer outro tipo de intolerância. (...) Crianças são aprendizes da vida... Puxa! Quem é que não tolera alguém que ainda está aprendendo a conviver?"

Crianças, como diz a nossa Constituição Federal, necessitam da convivência comunitária para se desenvolver. Crianças têm DIREITO a serem tratadas com dignidade, a não serem discriminadas. Crianças têm "a condição peculiar" de "pessoas em desenvolvimento". Têm garantidos "por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade", diz o Estatuto da Criança e do Adolescente Brasileiro.

Desenvolver-se implica em passear, andar por vias públicas, ir ao supermercado, ver adultos de todos os gêneros e personalidades, assistir a vida passando, os carros passando; atravessar a faixa de pedestres e aprender a olhar para os dois lados, descobrir que a mãe dá ao padeiro o "papel-dinheiro" em troca do pão. Significa aprender a pegar com o garfo, saber sentar-se à mesa, pedir com educação sua refeição ao garçom. Para se desenvolver, a criança necessita conhecer outros lugares, culturas, línguas.

A criança pode ser retida por um cinto atado a seu corpo para que não sofra acidentes até que se desenvolva o suficiente para compreender as regras do trânsito; mas não pode ser barrada em um local onde não há conteúdo impróprio para seu desenvolvimento, SOB QUALQUER PRETEXTO. Que se doam os infelizes com sua alegria, sua inexperiência no trato social e sua sinceridade cortante; os angustiados com a sua capacidade de fazer da cadeira giratória um motivo para girar; aqueles que se esqueceram que um dia também foram crianças.

Apenas para anuviar os meus ânimos, que, admito, estão exaltados, e deixar o texto mais soft... Sempre policiei o tom de voz do Heitor quando a sua felicidade é extrema. Ele grita empolgado na frente da TV, e eu digo: "fale mais baixo, filho, não acorde seu irmão"...

Hoje eu e o pai dele conversávamos, cada um em um cômodo, em altas vozes, quando de repente ouvimos o indignado  rapaz no meio da sala dizer: "Mamãe, Papai, fala baaaixo!!"

Hotéis "românticos", restaurantes "adultos"... Azar o de vocês. Perderam um cliente exemplar. Boa sorte com sua clientela "gente grande"!


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