sábado, 9 de abril de 2011

A mãe que posso ser: a mãe que quero ser - Blogagem Coletiva



Desde que li o tema da Blogagem Coletiva, uma pulguinha me morde o cérebro... “Sou a melhor mãe que posso ser? Sou a melhor mãe que posso ser?”. Não consegui escrever ontem por conta do meu aniversário, nem hoje, por ser sido um daqueles dias D (Dia Dengo, ou Dia de Não Largar a Mamãe). Por conta disso, a pergunta ecoou mais tempo. Hoje tive a resposta: NÃO.
Não? Não! Não, dentro dos “modernos” padrões, não no que se convencionou, atualmente, a chamar de mãe ideal.
Sei que todos que me conhecem, que viveram a minha maternidade de perto, estão me chamando de louca agora. Já explico.
Ser a melhor mãe que poderia ser parte do pressuposto que existe uma mãe ideal. Claro, porque a frase contém um “quase”, um prêmio de consolação... Um implícito: “Dei meu máximo, cheguei até os limites dos meus esforços”... Pronto. Mas quem é essa mãe ideal, aquela que não conseguimos ser?
A “mamãe perfeita” é a que agrada bisavós, vovós, papais, chefinhos e professores. Atende a todos os estereótipos femininos, e não se sente cansada! É isso? A mãe ideal convence o filho a comer brócolis só com sorrisos, previne germes e bactérias sem podar a criatividade de seus filhos... A mãe ideal, permitam-me, me enoja. Ela mora na casa ao lado da Fábrica do Papai Noel, Condomínio dos Ideais, vizinha do Príncipe Encantado e da Mulher Honesta, aquela a quem o Código Penal abdicou, porque estava muito difícil de achar...
Entendem aonde quero chegar? Estabelecemos socialmente noções de “ideal” e vivemos buscando o impossível. E nos frustramos, porque não os atingimos. E daí nos conformamos, porque demos o nosso melhor.
A verdade? Não sou a melhor mãe que podia ser, não me esforcei para atingir o “padrão” de manuais mesclados do que seria a “mãe ideal”, na verdade mal tentei. Um dia, olhei nos olhinhos do meu bebê e ele me disse (juro, ele disse, meu filho dialoga horrores comigo desde que nasceu, é um blábláblá louco): “mãezinha, sou seu filho, não quero ser filho de uma mãe diferente”.
Desse dia em diante, meu filho passou a ser filho de Helena, da de sempre, e não da Encantadora de Bebês. Da Helena fissurada em Google, que ri alto, que fala pelos cotovelos, que ama o Direito e o cheiro velho do processo (e ainda tenta se acostumar com os autos digitais), com a mãe que esbraveja quando indignada e que ainda traz, debaixo da pele, resquícios da Facom. Da mamãe doce com pimenta, demasiado humana... Não vou me esforçar para atingir um padrão inatingível, desagradável, cheio de regras e sem nenhuma espontaneidade. Vou ser feliz, vou ser alegre, vou ser leve com meu filho, e ensiná-lo a rir das porradas inevitáveis da vida.
Não sou a melhor mãe que posso ser, sou a mãe que quero ser para o filho que tenho. Sou a mãe que sou. Não posso ser outra mãe sem perder a minha identidade.
Meu filho come doce? Não era o que eu queria, mas sendo eu mãe de um “filho do pai”, achei mais produtivo, a longo prazo, ensiná-lo a comer doce da melhor forma do que proibi-lo.
Meu filho está na creche? Está, porque a mãe o pai que foram a ele reservados moram longe da família, e mamãe, tal qual um peixe longe d’água, fica triste e mal humorada se não faz o que ama fazer. E o Heitor – ele disse – quer a mãe ele, não a mãe ideal. Além disso, mamãe precisa cuidar da saúde, fazer mercado, ir ao banco... Mamãe percebeu que gosto mais de estar pintando com outras crianças do que olhando as prateleiras com sabonetes. Mas isso é ele. Muitos coleguinhas não preferem...
E por aí, vai...
Nunca fará mal a um filho a mãe ser o que deseja ser.
A minha mãe foi mãe integral para mim e não foi para meus irmãos. Sinceramente... Sempre gostei mais dela depois que saiu e foi estudar. Foi quando mais tive orgulho, quando mais a vi sorrir, quando ela mais foi o que era. Antes, ficava muitas vezes triste, e não parecia se encontrar. Eu tinha pouca idade, mas me lembro de coisas que nem ela lembra.
Essa é ela. Mas outras mães – e conheci muitas na rede – são mães integrais e são completas. Encontraram-se. Isso também é bom, se o peito está leve!
Sempre observei, para ser a mãe que queria ser, as mães de pessoas que conhecia e admirava – digo adultos, mesmo. A maioria tinha muitos filhos, muitas nem podiam oferecer tanto tempo e bens a eles. E eles são adultos maravilhosos!
Pensei em trechos de minha própria infância. De quando não pude ir ao curso de inglês antes dos 14 anos, e brincava de traduzir as letras dos Beatles nos discos do meu pai, usando um dicionário... Lembro-me do tempo que perdi pensando no que queria dizer “the movement you need is on your shoulders”, da quantidade de metáforas que imaginei, e da minha alegria quando “descobri” Lewis Caroll em “I am the Walrus” – É Alice, pai, ele está falando de Alice, a morsa, o cabeça de ovo! Eu não viveria esse momento tão criativo se tivesse o curso, simplsmente!
Também foi assim quando meu pai disse não poder pagar um curso que queria muito fazer, reescrevi a minha monografia e ganhei um prêmio com ela – o dinheiro exato para pagar o curso. Todas as minhas grandes vitórias vieram de limitações. Todas as coisas criativas que fiz, construí a partir de um grande NÃO da vida. Quando mudei para a capital, aos 11 anos, quando a condição financeira mudou. Tive que rebolar, me fazer interessante, inventar alternativas, aprender e reaprender. Reinventar-me. Vender o meu peixe. Viver só o “ideal” é se fechar para as possibilidades... Não existe perfeição em nada além do divino – o “pefeito” humano é simplesmente uma bitola que fecha os olhos para o que existe além do que se conhece. E isso nunca é bom.
A mãe que eu quero ser não protege, acalenta. O mundo será cruel ao Heitor, e quero que ele saiba disso, e ainda assim, queira enfrentar o desafio. Que saiba se defender, mas que saiba defender o que É. O que GOSTA. Que não se deixe levar pela necessidade de agradar. Que saiba achar sua turma, que respeite o diferente, que se faça respeitar. Que saiba sorrir, que trate bem às mulheres, que saiba amar e ser amado.
E assim será o meu filho! Mamãe prediz, porque mamãe não é ideal, mamãe é a mãe possível, é a mãe adaptável, que ela quer ser para o filho que ela tem, para o filho que ele quiser ser. Mamãe, assim diz o blog, nasceu tentando descobrir Heitor. Ela muda conforme a canção do Heitor muda. Ela respeita suas necessidades e seu bem estar. Ela se faz respeitar em sua individualidade. Como dizia a Françoise Dolto, crianças não são mini-adultos, são seres prontos. São IGUAIS aos adultos. Ambos precisamos nos respeitar na condição básica humana. Eu conduzo a ele, como em uma deliciosa valsa - eu moldo os meus passos às notas da sua canção, e ambos faremos um belo espetáculo! E quem disse que a vida precisa ser certa, ensaiada? Não, para ser genial, precisa ter toques de espontaneidade, de criatividade, como a dança...
“Navegar é preciso, viver não é preciso” – não usemos bússolas para viver... Vamos como os grãos de pólen, semeando ao vento...

Beijos a todas as mães possíveis!
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Adorei o texto.
    Muito importante a mãe ser feliz e buscar sua realização até porque os filhos aprendem com o que vêem na gente também. Mãe feliz transmite muito mais coisas positivas p filho.
    Vou te seguir, gostei de como escreves. Te achei pela rede mulher e mãe no twitter. Bjs

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  2. Finalmente achei o teu texto da blogagem coletiva, tava até tonta.. brincadeira, e eu prorcurei que achei =D!
    Amigas todos somos as melhores mães, pois nos dedicamos ao máximo para nossos filhos!

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