quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Blogagem coletiva: Vínculos

Heitor e papai, de mãos dadas.

 Escrevi aqui uma vez como não acredito nesse amor imediato entre os pais e os filhos. Acredito que amamos a ideia de sermos pais. Amamos imaginar nossos filhos, e amamos a figura imaginada. Mas ainda não o amamos, realmente.
Acredito que sentimos, ao lutar pelos nossos bebês, amamentando-os ou zelando pelo seu sono, durante os primeiros dias, um gigantesco senso de responsabilidade - uma introdução ao amor que se forma, mas, a meu ver, ainda não é amor.
Um belo dia, um simples sorriso, um olhar, um aperto nas suas costas durante uma mamada, qualquer gesto simples do seu bebê, funciona um gatilho, uma porta imensa que se abre e deixa entrar a luz mais forte e branca que você já viu. Esse amor limpo, virgem, não contaminado, tão forte e entregue que você nem podia prever que existia, esse é o amor que você carregará no seu peito até o último dos seus dias, às vezes doído, às vezes esplendoroso, mas nunca suave. Esse amor é como uma massa inquebrável no seu peito, lhe preenchendo completamente. Os vínculos, contudo, são outra coisa.
Eles acontecem bem rápido. Vínculos não tem necessária relação com afeto. Vínculo é aquilo que lhe une ao outro, é aquele ponto de encontro entre as suas personalidades. Pode ser um lugar, um pensamento, um projeto ou um quarto compartilhado. Os vínculos nos aproximam dos outros, nos lembram que não estamos sozinhos. Precisamos do outro, dependemos do outro, e exatamente por isso, devemos respeitar e cuidar do outro. Não estamos jogados sozinhos nessa peneira louca chamada universo. Por isso, criamos vínculos.
Assim, há vínculos de ódio e amor, vínculos de amizade ou vínculos simplesmente intelectuais. Os vínculos nos permitem crescer, sermos seres humanos maiores e melhores. Unem nossas mentes e corações, expandem nossa memória RAM.
Sempre que alguém me pergunta como é ter um filho, eu digo: racionalmente, é a maior roubada, mas estranhamente, é a experiência mais fantástica que um ser humano pode viver. É complicado, difícil, invasivo. Gera responsabilidades permanentes. Mas sorrimos um sorriso bobo quando dizemos isso. E simplesmente não sabemos explicar porquê.
Porquê??
 Porque se vincular é difícil. Amar é difícil. Achar pontos em comum com o outro também significa achar pontos de discordância. Relacionar-se é oneroso. A gente sempre pode se machucar, sempre perde privacidade, sempre precisa ceder... Viver sozinho é fácil. Amar, amar é sempre difícil.
É confortável ser livre e só. Mas só no convívio com o outro obtemos material para trabalharmos em nós mesmos e crescermos.
Vínculos podem doer, mas sempre nos deixam maiores. E melhores.
Penso que meu vínculo com o Heitor começou quando o vi na telinha, durante o primeiro USG Morfológico. Ficou tão claro que estávamos compartilhando um espaço físico, duas vidas conectadas por um cordão, que desde então escrevo neste blog. Daí até os chutes, os vínculos foram ficando mais bilaterais... Hoje o Heitor já sabe mostrar o que quer. Ele não gosta de portas abertas por onde não pode passar - então as fecha. Ele não se assusta com os gritos da mamãe. Ele testa os "nãos". Ele não gosta de trocar a fralda - cá entre nós, deve ser entediante, mesmo. Heitor se espalha nas nossas vidas como se espalha no chão de casa, com seus quereres, suas manias e seus incômodos. Nós, meio incomodados com a falta de controle sobre ele, mas felizes de que estamos lidando com uma personalidade única, nos chateamos e rimos ao mesmo tempo. Nos adaptamos. Nos unimos, nos solidarizamos, mudamos os pontos de vista e convivemos.
Com as mãos dadas...




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